Reportagem: O atraso na conclusão das obras de revitalização do Mercado Municipal da Terra Firme.

 Projeto de reforma que visava melhorias para a população e feirantes, está em atraso há mais de 1 ano.

Conhecido por ser um dos bairros de periferia mais populosos da cidade de Belém do Pará, o bairro da Terra Firme tem uma feira extensa localizada na avenida Celso Malcher. A feira a céu aberto recebe um grande fluxo de pessoas todos os dias e conta também, com um Mercado Municipal que foi contemplado com um projeto de revitalização, realizado pela Prefeitura Municipal de Belém e o Governo do Estado. O projeto de revitalização também contemplou os Mercados Municipais dos bairros Guamá e Pedreira.

Um dos símbolos da cultura popular, o Mercado Municipal da Terra Firme é responsável por grande parte da movimentação da economia do bairro. Com um espaço interno amplo, em seu interior funcionava a venda alimentos, verduras, farinhas, ervas medicinais e até roupas. Porém, o espaço necessitava há anos de uma atenção especial do poder público, para a resolução dos problemas internos de infraestrutura, que vinham incomodando os trabalhadores e afugentando o público consumidor.  

A obra de revitalização do Mercado Municipal da Terra Firme é uma iniciativa da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Economia (Secon), em convênio com o Governo do Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento e Obras Públicas (Sedop). A necessidade da reforma, se deu devido ao grande deterioramento da estrutura interna do Mercado. O prédio construído há várias décadas, apresentava vários problemas, como infiltração nas paredes e no piso, teto com goteiras, instalações elétricas precárias e iluminação dos boxes improvisada. Entre outros problemas, está a questão da falta de espaços com pias, para a higienização dos trabalhadores e a ausência de banheiros.

Para o início do desenvolvimento do projeto, a Prefeitura de Belém por meio da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) interditou a avenida Celso Malcher, em Junho de 2022. Foi feito o desvio do itinerário das linhas de ônibus 323- Canudos Pça. Amazonas, 326- Canudos Pça. Amazonas Tucunduba e 324- Canudos Pte. Vargas para a Avenida Tucunduba. Após o desvio das linhas de ônibus, foi dado início a construção da feira provisória, para realocar os trabalhadores do Mercado Municipal.

Constituída por barracas de madeira, com cerca de 2 metros cada, a feira provisória divide um espaço reduzido com os trabalhadores que ficam às margens da avenida Celso Malcher. Com o remanejamento dos permissionários do Mercado Municipal para a feira provisória, ficou bastante comprometida a circulação de pessoas na feira, e isso causou a diminuição nas vendas. Grande parte da queda nas vendas, se deu também pela impossibilidade da circulação de veículos, o que afastou os compradores vindos de outros bairros.

De acordo com o projeto, o prazo para a execução dos serviços seria de oito meses e toda a obra tem o orçamento no valor total de R$ 3.119.683,35. Inicialmente, a interdição da Avenida Celso Malcher, duraria somente até o dia 17 de fevereiro de 2023. Porém, com o atraso na construção e entrega das barracas provisórias, o remanejamento dos permissionários só ocorreu no final de dezembro de 2022 e início de janeiro de 2023.


Feira provisória construída na parte central da Avenida Celso Malcher.

O remanejamento dos feirantes para a feira provisória, trouxe impactos na rotina das vendas dos trabalhadores em geral. Segundo Roselita Melo, uma das responsáveis pela Comissão de Permissionários do Mercado Municipal da Terra Firme, as barracas de madeira foram construídas sem atender as necessidades dos feirantes. Como vendedora antiga de verduras, Roselita teve sua capacidade de vendas e lucros reduzida pela metade. Ela também afirma, que o comércio local está sofrendo pela falta do fluxo de veículos, pois deixou de receber os clientes vindos de bairros de Canudos e Marco. O espaço bastante reduzido, também afasta frequentadores que vem de moto, e não tem onde estacionar.

O vendedor de pescado, Claúdio Souza, diferente de Roselita, não tem sentido uma queda tão grande nas vendas, mas reclama que a barraca oferecida não era a ideal para a venda de alimentos perecíveis. Cláudio chegou a gastar cerca de 1000 reais, para fazer um piso de concreto na barraca, por causa do liquido que sai do pescado. Ele também diz, que o calor constante faz com que o alimento estrague mais rápido.

Em conversa com alguns frequentadores da Feira e do Mercado Municipal, pode-se observar que alguns deixaram de frequentar com tanta constância o local. Leia Matos, disse que antes ia de 3 a 5 vezes na semana a feira, hoje costuma ir duas vezes no máximo ou prefere ir a um supermercado. Em questionamento dos motivos para ir menos vezes, ela citou a super lotação, espaço reduzido e alimentos mal conservados nas barracas, além de poças de água na via.


Ciclista trafegando sobre água empoçada. Cena que se repete em vários trechos da via.

Segundo os feirantes, o atraso nas obras se deu em decorrência da demora no laudo de liberação da Defesa Civil, para prosseguimento do trabalho. No final de abril deste ano, com a visita do Prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, a nova previsão para a conclusão dos trabalhos ficou para o segundo semestre de 2023. De acordo com a assessoria da Prefeitura Municipal, mais precisamente no mês de setembro.

Enquanto isso, a vendedora de roupas Thelma Oliveira, aguarda ansiosa a volta para o Mercado Municipal. Com semblante triste, ela conta que agora não está vendendo quase nada e ainda teve que gastar, aproximadamente 600 reais, com a compra de um portão de ferro para garantir a segurança de suas mercadorias. Thelma diz, que devido à baixa extrema nas vendas, suas colegas das barracas vizinhas, deixaram de ir trabalhar. Com a dificuldade nas vendas, é comum observar várias barracas fechadas ou servindo como depósito.


Boxes sendo usados para armazenamento de caixotes e despejo de lixo.

A obra de Revitalização do Mercado Municipal da Terra Firme, veio com o intuito de beneficiar a população e trabalhadores locais, que há décadas aguardavam pela atenção do poder público. Apesar do grande atraso para avanço dos serviços e a mudança na rotina dos trabalhadores, a promessa de proximidade de conclusão da obra de revitalização, trouxe a esperança de trabalho em um local melhor organizado, que vai atender as necessidades de feirantes e clientes. Com o final dos serviços, os trabalhadores receberiam um espaço com piso reconstruído, nova pintura, instalação de forros, banheiros e boxes novos, entre outros benefícios.

Em contato com a assessoria da Secretária Municipal de Economia (Secon), foi repassado o novo prazo para o término da obra, previsto para setembro de 2023. Segundo Cristiane Larrat, arquiteta e chefe do Departamento de Manutenção e Abastecimento das Feiras e Mercados, o atraso no desenvolvimento da obra de revitalização, ocorreu porque alguns permissionários aceitaram a proposta inicial do projeto e outros não entraram em acordo. Devido a esse conflito de interesses, o projeto precisou ser refeito várias vezes, a fim de agradar a maior parte dos trabalhadores. No entanto, após o fechamento de acordo para a última fase conclusão do projeto, surgiram novos empasses, entre a prefeitura e os permissionários. Atualmente, a obra de revitalização continua parada, sem um prazo definido para a sua finalização. Por isso, os permissionários planejam protestos unificados, juntamente com os profissionais dos Mercados Municipais dos bairros do Guamá e São Brás, para pressionar a Prefeitura de Belém e Governo do Estado a dar agilidade para conclusão das obras.

No vídeo abaixo, Roselita Melo detalha as próximas ações dos permissionários para cobrar das autoridades responsáveis respostas sobre a entrega do projeto:


Ainda de acordo com a arquiteta responsável pelo projeto, Cristiane Larrat, a previsão é que passados os transtornos causados por esse grande atraso nas obras, a avenida Celso Malcher deverá receber novo asfaltamento, tratamento de esgoto e melhorias no saneamento básico.

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